Mais do que mero apoio financeiro, apadrinhar uma criança significa oferecer a ela a chance de um futuro com oportunidades que normalmente não teria. Talvez esse apelo tão emotivo explique as altas taxas de retenção com o uso dessa ferramenta. “As pessoas querem deixar um legado, construir uma história, e buscam uma causa. Não dá para fazer isso com ações esporádicas, e o apadrinhamento desenvolve justamente um vínculo”, avalia Gerson Pacheco, diretor do ChildFund Brasil, cuja matriz norte-americana criou essa técnica de mobilização de recursos em 1938.
A organização, que tem esse artifício como o principal instrumento de captação, registra baixos níveis de cancelamento — algo na “casa de um dígito”. Além disso, pela forma como a ferramenta é estruturada, consegue manter doadores em sua base por um longo tempo. “Os jovens podem ser apadrinhados até a idade limite de 24 anos ou até o momento em que consigam sair da situação de miséria. Há pessoas que estão conosco há 50 anos e que apadrinharam várias crianças nesse período”, revela Pacheco.
Os resultados do ChildFund Brasil, cujo número de beneficiados, em 2017, já ultrapassou 40 mil, mostram-se ainda mais notáveis, se for levada em conta a quantia mínima mensal para apadrinhar uma criança: R$ 57. Esse valor é mais do que o dobro do ticket médio doado mensalmente por pessoa no país, estimado em R$ 20, segundo pesquisa do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS).
Contato direto
O grande diferencial do apadrinhamento é a possibilidade de contato direto entre doador e beneficiário. “Temos uma lista de crianças atendidas por organizações parceiras [são mais de 40 instituições] e que podem ser apadrinhadas. É permitida a comunicação entre elas e seus padrinhos, mas considerando que a proteção delas é sagrada”, diz Pacheco.
A organização permite, por exemplo, que o padrinho ou madrinha troque cartas com seu afilhado ou afilhada, converse por telefone e, até mesmo, faça uma visita. Mas tudo é monitorado de perto pelo ChildFund Brasil, pois é vetada a divulgação de informações pessoais do beneficiado, como número de contato, redes sociais ou endereço.
No caso das visitas, o cuidado é ainda maior. Elas precisam ocorrer em local público e ter a presença de um representante da organização parceira ou do ChildFund Brasil, além de contar com a participação de um responsável pela criança.
Apesar do vínculo estabelecido, o dinheiro da doação não vai diretamente para o beneficiado, conforme explica Gerson Pacheco. Do valor arrecadado, 10% servem para cobrir custos; 20% são destinados a ações de mobilização e 70% vão para um fundo coletivo que financia diversas atividades de desenvolvimento sustentável para a criança apadrinhada, sua família e comunidade.
Os doadores, por sua vez, recebem periodicamente um relatório sobre a criança, com informações de como ela está indo na escola e em suas relações familiares, além das cartas escritas pelas próprias crianças. “Quer auditoria melhor sobre o nosso trabalho do que essa?”, brinca o diretor do ChildFund Brasil.