A formação e atuação de um conselho eficaz são fundamentais para a sustentabilidade de longo prazo das organizações da sociedade civil (OSCs). É o que afirma Ricardo Blay, consultor especializado em governança e sustentabilidade financeira para organizações do terceiro setor e um dos palestrantes que estarão nas masterclasses do Festival ABCR 2024. Ele destaca a complexidade e os cuidados necessários na composição e na atuação dos conselhos, ressaltando sua importância não apenas na governança, mas também na captação de recursos.
“Os cuidados na seleção dos membros do conselho são essenciais”, enfatiza Blay. Além de idoneidade e integridade, é preciso que os membros tenham um compromisso genuíno com a causa da organização e representem uma diversidade que enriqueça os debates e decisões.
“Outro aspecto muito importante é justamente as questões relacionais. Olhar para o ecossistema de relacionamento que esse conselheiro transita, olhar também para as relações comerciais, relações políticas, relações empresariais e relações sociais e onde ele está inserido, para que a gente possa aproveitar da melhor forma possível esse conselho dentro da organização. Também é fundamental que esse conselheiro seja ou doador ou captador”, afirma o especialista, que acrescenta a necessidade de que a pessoa a ocupar uma vaga no conselho tenha experiência prévia em gestão. “Não é que o conselheiro precisa ter todos os itens acima, mas os itens acima são fundamentais para serem considerados”.
Segundo Blay, o conselho desempenha múltiplas atribuições estratégicas, incluindo a governança e o apoio à sustentabilidade financeira. “É fundamental que ele entenda isso também é uma atribuição do conselho, seja do ponto de vista conceitual ou seja do ponto de vista prático. Isso vai variar de conselho para conselho, de governança para governança, de estatuto para estatuto. Isso não é sempre igual, mas isso é fundamental para que seja considerado quando se for pensar nas atribuições e responsabilidades que o conselho deve assumir”.
Blay destaca ainda que o conselho pode impactar diretamente na captação de recursos, atuando como doador, captador ou facilitador de conexões estratégicas. “Uma das possíveis atribuições que impactam na captação de recursos é quando ele próprio é doador. Seja porque ele é um filantropo na pessoa física, seja porque ele está como representante de uma empresa que é patrocinadora ou seja porque ele faz articulações para participar da captação de recursos, oferecendo a casa para jantares e para eventos, fazendo pontos de contato com personalidades e lideranças próximas para apresentar o projeto”, explica o consultor.
Um conselho engajado não vê a captação de recursos como responsabilidade exclusiva da equipe dedicada, mas como um esforço compartilhado que requer investimentos contínuos em capacitação e estratégia. “É o conselho que normalmente apoia a área executiva na formação de uma área de desenvolvimento institucional mais robusta, que tem investimentos de comunicação, de marketing para ter o fortalecimento da marca, que possibilitará a captação de recursos de verba irrestrita, mas também as áreas de captação de recursos na frente de pessoa jurídica, pessoa física, governamental e com estruturas de fidelização”.
Entre as melhores práticas recomendadas, Blay enfatiza a importância de um conselho participativo e estratégico. “Ser um conselho que valoriza a área de desenvolvimento funcional e que compreende que a comunicação tem um papel transversal fundamental, que entende que a palavra marketing pode se equivaler a contexto, marketing igual a contexto, e que é preciso investir em planejamento de contexto, com pesquisas e departamentos específicos, para que essa captação de recursos seja um grande ativo da organização, não apenas no curto prazo, mas no médio e no longo prazo”, finaliza.