Com debates dinâmicos e interativos sobre tecnologias e inovação, evento realizado dia 22 de outubro celebrou o aniversário da ABCR, apontando para os próximos 20 anos.
Palestras dinâmicas, focadas, ministradas por quem está no dia a dia da captação de recursos e privilegiando a interação instantânea do público por meio de mídias digitais. Estas foram as marcas do ABCR 20 anos, evento que não apenas celebrou o aniversário da Associação, como definiu as bases para seu futuro.
Realizada no campus Liberdade da FECAP, parceira do evento, a intensa programação apresentou boas práticas e reflexões para o fortalecimento da doação no Brasil e da sustentabilidade de organizações sociais a partir do tema “Inovação e Tecnologia para a Captação de Recursos”. Sem esquecer de reconhecer os avanços da organização nas últimas décadas com uma emocionante entrega do Prêmio ABCR 2019.
“Nós, que trabalhamos pela sustentabilidade econômica das organizações e engajando pessoas a causas, precisamos falar sobre como alavancar a captação por meio de novas tecnologias. Mas também de outros temas importantes como governança, escolha de fornecedores e negócios que a organização pode administrar”, resumiu o diretor executivo da ABCR, João Paulo Vergueiro.
E o uso de novas tecnologias foi incorporado no evento como exemplo. Desde a inscrição e pagamento online à entrada automatizada, da interação do público com os palestrantes digitalmente (usando o Sli.do), e duas novidades apresentadas entre debates: o uso de QR Code para doação e o leilão virtual. Ambos demonstrados pelos patrocinadores do evento para captação de recursos à ABCR; o primeiro pelo Mercado Livre e o segundo pelo eSolidar.
Em tempo: o leilão solidário de uma bolsa integral no festival ABCR 2020 e mentoria inédita de 6 horas com o Conselho da ABCR terminou o dia com o lance de R$700,00 e vai até o dia 1 de novembro. Lembrando que o valor estimado apenas da participação no Festival é de R$1.400,00. Acesse e faça seu lance!
Todas as palestras foram gravadas, em uma parceria da ABCR com a Escola Aberta do Terceiro Setor, e uma vez prontos os vídeos ficarão disponíveis online para quem quiser acompanhar, mediante o pagamento de um pequeno valor.
Dia de Doar
Marcado para o dia 03 de dezembro, a inovação sobre o #DiadeDoar foi amplamente explorada na programação. Além da apresentação do vídeo oficial por Marina Pechlivanis, da Umbigo do Mundo Comunicação Estratégica, foram mostradas boas ideias de sua implementação comunitária.
Como a realizada pela Prefeitura de São José dos Campos (SP). Por meio do Fundo Social do Município, a prefeitura fortalece as entidades de sua cidade a partir de um leque de serviços, que vão do apoio à qualificação profissional (de colaboradores, voluntários e beneficiários), à formação em captação de recursos e estímulo à gestão organizacional.
“Como a gestão de município é de quatro anos, focamos nosso trabalho nas entidades, para que elas alcancem sua independência. E nossa primeira ação foi realizar um levantamento das necessidades de cada uma delas”, afirmou a presidente do Fundo Social de Solidariedade de São José dos Campos,Vanessa Ramuth.
Voce por conhecer mais sobre esta experiência, aqui.
Outro exemplo importante foi o #DoaSorocaba, que, além de fazer o #DiadeDoar uma data oficial do seu município, colaborou para que fosse também adotada pelo Estado de São Paulo, em 2018. Para além do protocolo, por meio do Instituto Alexandre e Heloísa Beldi (IAHB), realiza oficinas para organizações sociais da região, que buscam impulsionar sua captação de recursos.
Incorporando Novas Tecnologias
A utilização de tecnologias no cotidiano da captação de recursos não é algo longe da realidade de muitas organizações, porém é preciso ter objetivos claros para tirar melhor proveito dessas ferramentas. Embora pareçam complexas, muitas são amigáveis e promovem soluções simples para cada passo do processo.
Como apresentado no debate “Conseguindo doações e doadores online”, que contou o caso da APAE de Anápolis (GO). Através de uma ação de marketing de conteúdo online, utilizaram ferramentas do Facebook para atrair pessoas e convertê-las em doadores, o que antes era feito com bases de contatos “frios” (que não são da organização, geralmente comprados) a partir de telemarketing.
Outro exemplo prático foi apresentado por Flávia Lang e Cláudia Focking, da Pitanga.Mob, sobre o uso de ChatBot, software robô que conduz conversas com quem acessa sua página ou aplicativo, dinamizando o relacionamento com clientes ou doadores. Apresentaram o caso do Agência de Notícias dos Animais (ANDA), que, após ter seu site hackeado e perda significativa de dados e leitores, implementou um Chatbot simples para que a audiência recebesse as notícias de seu interesse por messenger e whatsapp.
Mesmo com essas facilidades, um ponto de reflexão sobre tecnologia na prática foi evidenciado por Marcelo Estraviz, um dos fundadores da ABCR e do Instituto Doar, além de escritor e ativista. Ao divulgar dados preliminares de uma pesquisa sobre captação de recursos e tecnologia desenvolvida por ele, com 256 organizações participantes, mostrou que há muito espaço para crescer.
Segundo ele, algumas questões versaram sobre as 26 empresas que atuam no Brasil e disponibilizam serviços para o terceiro setor. Nas respostas, apenas três figuraram como conhecidas por mais da metade dos entrevistados. “O que me chamou a atenção é que esse trio não é exatamente formado por empresas que estão a serviço do campo social, não foram criadas para o terceiro setor”, apontou, revelando PayPal, PagSeguro e Vakinha como as mais conhecidas e utilizadas para esse público.
E sobre o uso de tecnologias, apenas duas ficaram acima dos 50% nas respostas: site (92%) e disparador de e-mails (70%). “Veja quanto temos de oportunidades para essas empresas especializadas, que nasceram no setor social, serem reconhecidas por ele? Eu acredito nisso, mas precisam divulgar mais para as organizações”.
Como tendência para o próximo ano, a pesquisa mostrou o CRM como tecnologia que se pretende contratar. Estraviz foi reticente sobre esse dado: “Fico com dúvidas se existe realmente um conhecimento sobre CRM ou porque ouviram dizer que é importante”.
Os benefícios do Customer Relationship Management (CRM) já haviam sido debatidos anteriormente no evento, em mesa redonda mediada pelo diretor executivo da ABCR, João Paulo Vergueiro. Didática, a apresentação elucidou a audiência sobre para que serve, na prática, essa ferramenta e apresentou uma série de fornecedores.
Aprendizado e Conexão
Dilemas e desafios pessoais e organizacionais também tiveram palco no ABCR 20 Anos. Enquanto a especialista em relacionamento da OXFAM Internacional, Amanda Fazano, demonstrou o que é ser, na prática, uma profissional de captação no Brasil com olho no global, Débora Borges, Assessora de Relacionamento com a Sociedade, do Fundo Brasil de Direitos Humanos, apontou o que é preciso para escolher bons fornecedores para sua organização.
Embora tivessem falas separadas e objetivos distintos em suas intervenções, ambas trouxeram como imprescindível privilegiar o conhecimento, o planejamento e a estratégia a serviço de onde se quer chegar e a disposição para aprender. Elas ainda alertaram para dois pontos pouco discutidos no terceiro setor: a diversidade e suas relações de poder dentro das organizações.
Ao mencionar o trabalho que o Fundo tem realizado para garantir que todos tenham oportunidades de crescer sem qualquer preconceito institucional, Borges afirmou que precisamos mudar isso primeiro em nossa casa. Enquanto que, pouco antes, Fazano havia reforçado a necessidade por relações de trabalho mais humanizadas durante debate: “O bom gestor não pode confundir cobrança de resultados, com assédio”.
Seguindo, aqui, na linha de oportunidades internas das organizações, a gerente de Relações Institucionais no CLP – Centro de Liderança Pública, Thaís Bernadini, deu uma aula sobre como aproveitar as conexões e relacionamentos dos conselhos administrativos de OSCs como estratégias de captação de recursos. Além de estruturar um Comitê de Sustentabilidade, em que reúne equipe técnica e o conselhos, destacou o perfil de conselheiros.
Entre os quais definiu: os Técnicos, que contribuem com conteúdos para a missão da organização; os Agregadores, que trazem pessoas para esse trabalho; o Captador, que realmente alavanca recursos; e o Defensor, que blinda, por ativismo e relacionamento, a causa.
Apresentou inclusive um contrato que todos os conselheiros assinam, se comprometendo com a missão e suas responsabilidades, que você pode ver, aqui.
Comunicação e Serviços
Um dos pontos de dúvida das organizações sociais é a prestação de serviços à população. Afinal, é possível ter um negócio, lucrando com isso, e ainda ser “sem fins lucrativos”? Segundo a mesa de debate “Para além da Doação, a Geração de Renda Própria”, com Michel Teixeira, do Laramara, Michel Freller, da ABCR, sim.
Eles apresentaram o caso da Gráfica Laramara, que presta serviços de bulas em braille, que tem tido um bom rendimento para as ações da instituição. Legalmente possível, mesmo com outro CNPJ, o importante é que os recursos (lucro) da operação sejam destinados inteiramente para a causa, comprovado pela transparência em todos os processos.
E essa ideia de transparência deve estar em todas as comunicações que uma organização faz para seus diversos públicos. Histórias verdadeiras, emoções verdadeiras e evidências que ela alcança a transformação que você quer para o mundo.
Pelo menos é o que contém o vídeo divulgado pela Social Docs, de Henry Grazinoli e Marcelo Douek, na palestra com Maria Eugênia Puglisi Franco, a Noca, do Acorde – Oficinas Desenvolvimento Humano. Um filme institucional tocante, que celebra as vitórias de um personagem, enquanto mostra como o trabalho da organização é importante.
Mais do que doações diretas ou likes em mídias sociais, Noca lembrou como o processo de confecção do vídeo foi importante para unir a todos da Acorde, como também, para melhorar o relacionamento com antigo e novos doadores.
Veja o vídeo aqui
Passos para o Futuro
Os participantes do evento foram surpreendidos por dois anúncios feitos pela direção da ABCR, durante sua comemoração de 20 anos. O primeiro, realizado por Rodrigo Alvarez, da Mobiliza Consultoria e um dos fundadores da Associação, foi a revisão do Código de Ética da ABCR e, por princípio, da captação de recursos no Brasil.
“O Código é a base fundamental da profissão e foi criado antes mesmo da própria ABCR. Mas isso ocorreu há mais de 20 anos e percebemos que temos uma série fatores que não estavam contemplados, como as leis de incentivo, agentes de captação (que estão a serviço, mas não na organização), transparência pela conectividade, compliance, governança e negócios sociais. O que evoluímos é abissal e isso deve ser incorporado de forma mais atual”, lembrou Alvarez, que será líder do comitê sobre o tema na Associação.
Segundo ele, as propostas serão discutidas e caberá participação de todos, por meio de consulta pública, entre abril e junho de 2020. A ideia é que um documento final possa ser discutido no Festival ABCR 2021 e aprovado em assembleia nos meses seguintes.
Outro momento de atenção da audiência foi o anúncio de uma possível união institucional entre a ABCR e o Instituto Doar, revelada pela presidente do conselho da ABCR, Marcia Woods. “Estamos assinando um protocolo de intenções com o Instituto, porque ambas instituições acreditam que há sinergias para fazer juntas algo maior, olhando para nossas potencialidades no setor”, afirmou.
Woods mostrou os avanços da ABCR nos últimos 20 anos, como o aumento dos associados (hoje, 380), atividade dos núcleos regionais e, em especial, as conquistas no incansável campo de advocacy, como o fortalecimento de leis de incentivo à cultura, o marco bancário, o imposto sobre doações (ITCMD), a lei de proteção de dados (LGPO) e a classificação do captador como uma profissão regulamentada (CBO). Ao mesmo tempo em que fez uma declaração quase pessoal do trabalho.
“Olhar para o passado é revistar práticas, é olhar para o futuro em pensar em possibilidades. A ABCR está nesse momento, de ebulição e energia. Precisamos de uma organização forte e vibrante para dar conta de tudo que devemos fazer pelo setor e de tudo que ainda precisamos avançar para os próximos 20 anos.”
Experiência e comoção marcam Prêmio ABCR 2019
No momento em que a ABCR pensa seu futuro, nada mais natural do que rever o que realmente busca reverenciar com o Prêmio ABCR. Qual é o papel do prêmio afinal? Este ano foi priorizado a ação de ampliar a sustentabilidade financeira e o engajamento social, mais do que a organização ou captadora e captador que a realizou.
Em parceria com a empresa Ponte a Ponte (desde 2018), a nova versão do prêmio definiu a Melhor Ação Única, com a restrição que a instituição promotora não tivesse orçamento total acima de R$ 3 milhões, e categoria Melhor Iniciativa, em que todos poderiam participar, indivíduos, organizações e até governos, sem restrição de orçamentos.
“Buscamos resultados de grande impacto para determinada organização e, no segundo, mais impacto social”, explicou o diretor executivo da ABCR, João Paulo Vergueiro. Segundo ele, o resultado dessa mudança foi uma aumento exponencial da candidaturas: 14 e 19 iniciativas, respectivamente.
Na categoria Melhor Ação Única foi selecionada a ação da COMBEMTU – Associação de Atendimento à Criança e ao Adolescente de Tubarão (SC), que impactou a cidade e conseguiu captar mais de 10% do orçamento anual em uma única campanha. Já em Melhor Iniciativa, fazendo dobradinha catarinense, foi revelada a Associação Renal Vida. A comunidade doou dinheiro para ajudar na construção da sede da instituição que é responsável, só em Blumenau, por fazer hemodiálise em 180 pacientes.
A noite foi encerrada com muita emoção com a entrega do prêmio de Captadora Emérita do ano para Carla Nóbrega. “A ABCR, além de seus fundadores, tem há mais de 20 anos pessoas que contribuem para o fortalecimento da Associação e do terceiro setor como um todo. E a Carla esteve sempre presente, seja trazendo pontos importantes para debatermos, seja contribuindo a iniciativas de impacto na sociedade, por meio das organizações que encabeça”, disse Vergueiro, ao anunciar Nóbrega.
Ao receber o prêmio, ela lembrou que foi voluntária da SOS Mata Atlântica (“que já tinha um CRM”, e logo foi contratada), em 1994, apesar de não conhecer ninguém em São Paulo e com seu filho, Tomás, de apenas um ano. “Essa expressão ‘terceiro setor’ estava começando a ser difundida e eu, pessoalmente, acreditava que uma nova área estava nascendo nas organizações sem fins lucrativos”.
Para ela, já naquela época, as organizações precisavam se profissionalizar. Mas foi por meio da Célia Cruz, mais celebrado nome da captação de recursos no Brasil, durante um curso na FGV, em 1997, que conheceu um grupo de pessoas com vontade de criar uma organização, da qual seria vice-presidente, anos depois: a ABCR.
Segundo ela, como captadora há 25 anos, ser este profissional não é fácil, ainda mais em um país que não tem uma cultura de doação, com crises econômicas seguidas, corrupção, desconfiança geral às ONGs e, agora, com um governo “que parece jogar contra”.
Porém, a partir de sua experiência internacional, garantiu: “Posso dizer com segurança que, nós, captadores no Brasil, somos criativos, persistentes e resilientes. Mesmo com recursos escassos, fazemos coisas incríveis, tiramos ‘leite de pedra’. O que não falta para gente vontade de trabalhar.”
Para ela, os captadores têm um papel fundamental na construção de uma sociedade civil forte e comprometida com a diminuição das injustiças sociais do nosso país. “Dedico meu prêmio a quem sempre acreditou comigo na nossa profissão e na capacidade que temos de transformar o mundo”, finalizou na melhor forma de deixar todos emocionados.