Autora do livro Organizações Conectadas, a blogueira e especialista em terceiro setor americana Beth Kanter está em São Paulo para um seminário da Fundação Telefônica sobre voluntariado digital, e declarou seu apoio ao #diadedoar em entrevista exclusiva para a ABCR. Confira a opinião de Beth sobre a campanha e suas dicas para as organizações da sociedade civil e os captadores.
ABCR: Por que você apoia o #diadedoar?
Beth: Eu fiquei sabendo sobre o #diadedoar (#GivingTuesday, nos Estados Unidos) por meio de um dos seus fundadores, Henry Timms, alguns meses antes da sua primeira edição, em 2012, e aderi imediatamente para ser uma campeã (champion). Escrevi os motivos disso lá atrás, em setembro de 2012 (em inglês). Eu realmente acredito na ideia do #diadedoar – que qualquer um, de qualquer lugar, pode ser um investidor social privado; você não precisa ter muito dinheiro para participar, e você não tem que fazer uma grande doação. Doar por significar dinheiro, tempo, educação e defesa de uma causa.
Essa é uma ideia com a qual eu convivo já há um bom tempo e tenho exercido eu mesma. Pelo poder das redes e relacionamentos, pode-se fazer um impacto para uma organização ou fazer um bem social. Eu também acho que fazer parte de algo como o #diadedoar é muito inspirador porque você é parte de algo maior que somente você ou sua organização.
ABCR: Diferente dos Estados Unidos, o Brasil não tem uma cultura de doação. Como podemos aproveitar a campanha do #diadedoar para começar a mudar essa realidade?
Beth: Acredito que o #diadedoar é uma forma maravilhosa para começar a lançar um esforço coletivo para que muitas organizações no Brasil falem sobre cultura de doação – porque ela é importante, como fazer e, mais importante, os pequenos passos que se somam para que isso aconteça. Acredito que leva tempo para mudar as mentalidades, então você precisa continuar atuando pela cultura de doação – e mais que somente uma vez ao ano.
Nos Estados Unidos, “dias de doação” em outras partes do ano estão começando a se tornar populares. É uma comunidade local ou cidade que terá todas as suas organizações captando recursos e juntando o máximo de patrocinadores para essa ideia. Por sinal, uma comunidade nos Estados Unidos, tem uma campanha contínua chamada “Cultura de Doação“. Eles captam, mas também fazem muita pesquisa e educação, então todos na comunidade podem ser investidores sociais privados (filantropos).
Organizações da sociedade civil brasileiras devem considerar o #diadedoar como um só o primeiro passo no desenvolvimento de uma cultura de doação no país. Elas não devem somente pedir, mas também agradecer aos doadores, promover as histórias dos seus doadores e cultivá-los. Elas também devem encorajar seus doadores a promovê-las em suas redes. Também acho que é importante cultivar e educar a próxima geração de doadores, jovens – o que chamamamos de “Geração Z” – o #diadedoar oferece uma oportunidade de conteúdo para algumas escolas que poderiam utilizá-lo para esse fim.
ABCR: Como as organizações da sociedade civil podem usar as mídias sociais em seu benefício, ampliando sua captação durante o #diadedoar?
Beth: Tenho escrito muito sobre técnicas de captação de recursos de massa (crowdfunding) ou via mídias sociais. Muito do meu trabalho é dando capacitação e ministrei uma oficina sobre Melhores Práticas para Crowdfunding (em inglês). Uma campanha de sucesso realmente requer planejamento – você precisa conhecer seu público, o que os inspira e o que vai fazer com que doem. Você também precisa de um objetivo claro e ser capaz de falar sobre o que a doação vai impactar – quais são os resultados. Você precisa de muitas histórias inspiradoras sobre isso também. Mídia social é também uma maravilhosa ferramenta para engajamento, cultivo e retenção de doadores – e você também precisará garantir que você também está usando outros canais – como celular, e-mail, eventos cara-a-cara para o seu pedido de doação.
Mas acho que a parte mais importante é o uso do “testamento social” – que você consiga com que as pessoas na sua rede estejam abertamente falando como e porque elas estão apoiando sua organização, e fazendo isso inspirar outras. Chamamos isso de círculo virtual do bem. Mídia social é o melhor canal para isso.
Também é uma chave para o sucesso o uso de “campeões”, ou pessoas que têm ampla presença e rede online e são apaixonadas por sua organização. Você precisa ter esse círculo íntimo de apoiadores preparados para falar sobre sua organização nos canais de mídia social. Saiba mais como fazer isso aqui (em inglês).
Muitas pessoas pensam que muitos usuários de mídias sociais, especialmente jovens que estão online o tempo todo, vão só clicar e não vão fazer nada de doações. Algumas vezes eles chamados de “slackvists” (ativistas preguiçosos, em tradução livre), mas esses jovens estão agindo, se voluntariando, e fazendo doações. Organizações deveriam cultivá-los.
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Saiba mais abaixo sobre o evento da Fundação Telefônica no qual Beth Kanter veio participar: