O Paradoxo das Organizações Sociais no Brasil

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É atribuída a Heráclito a frase “um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio, porque nem o homem nem o rio serão os mesmos”.

 

Com as organizações sociais acredito que o fenômeno ocorre cotidianamente, independente do tamanho ou da área de atuação.

 

O paradoxo que menciono é que as organizações existem para mudar uma realidade e, ao agirem, transformam e são transformadas por esta mesma realidade. Algumas percebem isso através dos mecanismos de afinidade e sintonia com os “públicos interessados” que possuem, outras nem tanto.

 

Esta capacidade de avaliar, manter o que é necessário e mudar o que for preciso é, a meu ver, um dos fatores críticos de sucesso de uma organização, na implantação de sua missão e alcançar a visão de longo prazo.

 

As organizações operam segundo um conceito de “processo”, onde uma estrutura é alimentada com recursos, desempenhando funções, que geram um resultado. Ao fazer o diagnóstico ou levantamento de uma necessidade social de um grupo ou comunidade, a organização define uma proposta de intervenção – um projeto ou programa – e implanta a(s) iniciativa(s) e monitora os resultados.

 

Este resultado obtido, fruto da atuação da organização, aliada a outras parceiras e congêneres, acaba por transformar aquela realidade detectada anteriormente. Isto força a elaboração de um novo diagnóstico, reavaliando os processos e iniciativas, pois do contrário, não será um “processo” e sim uma repetição de ações sem fim.

 

Adequar estas transformações, impondo velocidade e recursos, não é um desafio exclusivo das organizações sociais. Também é verdade para as organizações corporativas, que as vezes se utilizam de instrumentos e ferramentas específicas do 2o. setor ou comuns ao 3otambém. Cabe as organizações sociais, analisarem os parâmetros do 2o. setor e utilizar os que melhor lhes convierem.

 

Algumas instituições possuem a capacidade de determinar estas mudanças, reorientações ou posicionamentos, mesmo com poucos instrumentos, e acredito que um dos pontos chave deste processo, seja o grau de sensibilidade e sintonia com os “públicos interessados”, e ao gerenciamento destas relações.

 

Esta sintonia fica a cargo das funções de Desenvolvimento Institucional, onde as relações entre os públicos e a instituição são mapeadas e gerenciadas estrategicamente, para que não só contribuam para que o resultado seja alcançado, mas sinalizem os caminhos para as propostas futuras de atuação. E aqui novamente ressalto que, prioritariamente, Mobilização de Recursos e Comunicação devem estar integradas, juntamente também com a área programática, para que estas sinalizações sejam traduzidas em iniciativas internas e externas para estas novas situações.

 

Assim, o fator “gestão” ganha uma nova abordagem, pois não se limita a realizar bem feito o que se propõe (eficiência), mas também focar no que é prioritário (eficácia). É um processo de escolhas e decisões, e somente com uma consciência dos valores, fortalezas, deficiências e ativos da organização, que estas escolhas podem ser perfeitamente decididas.

 

Com esta prática, a organização será totalmente nova a cada dia, mesmo sendo sempre a mesma.

 

Walter Topfstedt – mar.2012