Neste artigo, Filipe Ribeiro Dantas, nosso associado 01388, fala sobre sua experiência em um evento de fundraising católico junto aos especialistas mundiais no tema: os americanos. A ABCR em breve irá convidar os captadores destas organizações para uma reunião visando começarmos um grupo de estudos específico sobre o tema.
Parque de diversões do fundraising
Quem pensa em Orlando, logo pensa na Disney e em todos os parques temáticos que orbitam nos arredores daquela alegre e simpática cidade da Flórida.
Pois foi justamente no Disney’s Contemporary Resort – um dos mais icônicos hotéis do Walt Disney World Resort, com uma linda vista do Magic Kingdom e do castelo da Cinderela e com acesso direto ao “monorail”, que passa bem no meio do prédio – que se realizou a 47ª Conferência Anual da NCDC (National Catholic Development Conference – ncdcconference.org).
Foram cinco dias, de 12 a 16 de setembro, de imersão total, conhecendo as melhores práticas do fundraising católico.
Eu já tinha participado da International Fundraising Conference, da AFP, em Baltimore, MA, no mês de março. Na ocasião, eu fiquei impressionadíssimo com a extensão do mercado de fundraising norte-americano, que reuniu mais de 5.000 pessoas em um congresso para tratar de um tema que ainda é novo no Brasil.
Agora, em Orlando, pude comprovar mais uma vez a vitalidade do setor, ao participar de outro congresso com 700 pessoas para tratar apenas do fundraising religioso e voltado só para católicos. Fiquei imaginando que outros grupos de interesse também devem organizar seus próprios congressos de fundraising pelas vastidões daquele país… “Como a captação de recursos ainda é incipiente no Brasil”, pensei eu com os meus botões…
Logo na primeira sessão tivemos uma palestra com o Disney Institute, onde conhecemos os princípios de liderança e o peculiar modo de encantar os clientes que Walt Disney transmitiu à companhia.
O congresso contou, no total, com 5 sessões gerais, 6 reuniões de grupos de interesses específicos e 45 palestras sobre os grandes temas do fundraising: Fundamentos, Marketing Direto, Mercados Emergentes, Grandes Doadores, Planned Giving, Liderança e Suplementos.
Além de tudo isto, houve ainda uma sessão de ‘mesas redondas’: o grande salão foi tomado por mais de 40 mesas (redondas, evidentemente), cada uma com um moderador que conduzia a discussão sobre um determinado tema e sugeria soluções concretas: redução de custos, pequenas organizações, listas de mala direta (sim, as organizações alugam os nomes de seus próprios doadores!), soluções gráficas, telemarketing, mídias sociais, doações on line, grandes organizações, grandes doadores, planned giving, heranças, público hispano, modelagem estatística de base de dados, softwares, campanhas maduras, campanhas iniciantes, cooperativas de associações etc.
Houve também, durante todo o congresso, uma grande exposição de fornecedores de produtos, serviços e soluções para fundraising. Corretores de listas, provedores de softwares, produtos para brindes, máquinas de envelopamento e scanners para cheques, organização de eventos, firmas de telemarketing, soluções para doações on line e uma série de coisas impensáveis no Brasil. Ao andar pelos corredores da exposição, eu fiquei atordoado, sem saber para onde olhar, que nem uma criança no parque de diversão.
Conhecer as cooperativas foi uma grande novidade para mim. Eu descobri que as associações estão se reunindo para partilhar e trocar nomes de seus doadores. Sim, é isso mesmo! Cada organização cede para a cooperativa um determinado número de benfeitores, com o histórico das doações. A cooperativa então, com base em modelos estatísticos, estuda o perfil do doador da organização e busca, no enorme banco de dados que dispõe, quem são as outras pessoas com perfil semelhante. Várias associações me garantiram que o preço do nome é bem mais barato e o resultado da aquisição é muito melhor do que nas listas tradicionais.
O congresso de Baltimore, assim como o de Orlando, tratou quase que exclusivamente, de captação de recursos com indivíduos (pessoas físicas). Chamou-me a atenção como a sociedade civil americana é organizada e articulada. As pessoas não transferem a responsabilidade de resolução dos problemas para o Estado, são os indivíduos que desempenham um importante papel em suas respectivas comunidades. Por esta razão, o americano tem o costume de colaborar com causas que defendem a erradicação da pobreza, melhora do clima, proteção dos animais, humanitárias, religiosas ou comunitárias.
Em ambos os congressos eu percebi que as pessoas enxergam o papel do Estado como subsidiário, de importância secundária. As organizações da sociedade civil não dependem de recursos do governo para realizar as suas atividades; pelo contrário, elas se voltam para os indivíduos, a fim de solicitar apoio e doações. Por outro lado, o Estado dá muitos incentivos fiscais para as doações.
A captação de recursos na internet e nas mídias sociais, especialmente no Facebook, está crescendo muito nos últimos anos. Novas estratégias on-line, aplicativos para celulares e o uso de vídeos na web foram alguns dos pontos tratados em várias palestras. Entretanto, soube com surpresa, que 93% das doações nos Estados Unidos ainda são realizadas por meio de mídias off-line.
Por fim, em um congresso em Orlando não poderiam faltar os queridos personagens que encantam pequenos e adultos de todo o mundo. Mickey, Minnie, Pateta e Donald animaram a recepção dos participantes. Foi muito engraçado ver as freiras e os padres dançando, alegres como crianças, ao som das músicas marcantes da Disney.
Foram dias muito proveitosos, onde todos puderam revigorar suas missões por meio da magia da filantropia.
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