A decisão do governo dos Estados Unidos de suspender as atividades da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) tem gerado incertezas sobre o futuro do financiamento internacional. Embora a USAID tenha um peso expressivo na captação global, seu impacto direto no Brasil é mais restrito em comparação a outros países. Ainda assim, a suspensão dos repasses afeta projetos ambientais no país e sinaliza um cenário de maior incerteza para o financiamento internacional.
Impacto da suspensão da USAID em projetos ambientais no Brasil
Uma das áreas envolvidas na mudança é o Programa de Manejo Florestal e Prevenção de Incêndios no Brasil, que conta com a participação do Ibama, ICMBio e Funai. Em nota, o Ibama esclareceu que o combate a incêndios no Brasil não será interrompido pela decisão, pois as ações são realizadas com recursos do orçamento da União. Ainda assim, a suspensão do financiamento da USAID pode gerar prejuízos técnicos ao interromper algumas atividades de capacitação e cooperação técnica.
Ricardo Falcão, especialista em captação internacional e ex-funcionário da USAID, lembra que a USAID está presente no Brasil principalmente por causa da Amazônia e que os projetos ambientais foram os que mais receberam recursos nos últimos anos.
“Apesar disso, a USAID faz muito mais diferença para países como Bolívia e Paraguai. No Brasil, o volume investido é muito pequeno. O impacto real está em outros países da América Latina e, principalmente, na África”, afirma.
Já Leonardo Letelier, da Sitawi, avalia que a suspensão pode trazer efeitos mais expressivos, especialmente se considerarmos o conjunto de mudanças na política externa dos EUA. “A USAID tinha um orçamento no Brasil de cerca de 30 milhões de dólares. Se considerarmos os projetos indiretos e outras mudanças na política do governo americano, o número de organizações afetadas pode ser bem maior”, aponta.
Letelier destaca que, independentemente de a decisão ser revista, o cenário para a captação internacional já mudou.
“O futuro é claro: vai haver uma restrição de recursos e um redirecionamento de prioridades. Ainda que a USAID continue operando, os temas e volumes de financiamento certamente vão mudar”, explica.
A importância da diversificação de fontes de captação
A suspensão da USAID reforça um desafio recorrente para as organizações brasileiras: a necessidade de diversificar fontes de financiamento. Segundo Letelier, a crise da USAID pode ser um alerta para o modelo de financiamento adotado por muitos financiadores. “No Brasil, há uma tendência de financiar projetos e não organizações. Isso enfraquece as instituições e as deixa vulneráveis. Se um financiador sai, a organização pode não conseguir absorver o impacto e acaba comprometendo até projetos que ainda têm outros recursos”, observa.
Falcão destaca que há muitos recursos disponíveis no Brasil, mas muitas organizações não sabem onde procurar. “O problema é que a maior parte das instituições desconhece quem são os financiadores. Muitas não sabem o que é GIFE, não conhecem institutos e fundações brasileiras que financiam projetos. Se tivessem esse mapeamento, poderiam acessar mais recursos”, explica.
Estratégias para organizações que buscam financiamento internacional
Para organizações que querem captar recursos internacionais, Ricardo Falcão sugere começar por financiadores que já estão no Brasil. “O caminho mais fácil são as agências bilaterais, como JICA (Japão), GIZ (Alemanha) e CIDA (Canadá), que já têm escritórios aqui. Outra possibilidade são fundações internacionais que atuam na América Latina e Caribe”, recomenda. Algumas fundações que costumam apoiar projetos na região incluem Fundação Ford e Fundação Kellogg.
Ele também cita o Foundation Center, uma organização americana que reúne informações sobre os principais financiadores dos Estados Unidos.
“O Foundation Center congrega cerca de 90% das fundações americanas, e lá você vai encontrar uma lista de fundações. Peguem as fundações que trabalham overseas, ou seja, que já operam fora dos Estados Unidos. Dentro dessas, há uma divisão específica para América Latina e Caribe, o que pode ser um bom ponto de partida”, conclui.
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Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas