Uma captação de recursos eficaz é aquela que aposta na diversificação. Os editais, que são um processo de seleção de parceiros que devem executar determinados projetos, podem contribuir muito para a saúde financeira das organizações da sociedade civil. Por meio deles, financiadores – que podem ser públicos ou privados – estabelecem critérios e regras para colaborar financeiramente com organizações sociais.
De acordo com Stefane Rabelo, diretora-executiva do Nexo Investimento Social – que auxilia na captação de recursos de organizações da sociedade civil – os editais geralmente são temáticos. O Proac, por exemplo, é oferecido pelo governo de São Paulo e direcionado a projetos culturais. No entanto, existem editais para vários setores como saúde, educação, meio ambiente, empreendedorismo, entre outros.
Estes processos possuem cada vez mais transparência e reafirmam a identidade e a importância de empresas e órgãos públicos. A maior plataforma de editais do Brasil é o Prosas, que publica processos de empresas privadas, estatais, institutos e até mesmo de entidades internacionais. Dados da plataforma mostram que foram publicados 1787 editais em 2021. Segundo Stefane, os editais são valiosos para a captação de recursos, mas requerem atenção ao longo de todo ano para acompanhar o calendário de publicação.
Para aumentar as chances de êxito das instituições, é necessário ter uma pessoa responsável pela captação, que realize o monitoramento e a seleção de editais: “Se não há alguém olhando para os editais e focado em preenchê-los, dificilmente dará certo. É preciso que uma pessoa olhe todos os dias e que esteja em busca de oportunidades para ver onde a organização se encaixa. Sabemos que a rotina das organizações é pesada, frequentemente as atividades são exercidas por uma mesma pessoa e, de maneira geral, a captação pode ficar para trás. Porém, é preciso que uma pessoa use a maior parte do seu tempo para fazer isso”.
A diretora-executiva do Nexo Investimento Social diz que um dos maiores erros das instituições é participar de editais inapropriados aos seus perfis. Essa insistência pode ser comparada a uma situação comum no mercado de trabalho: quando profissionais enviam currículos para vagas incompatíveis com suas habilidades e experiências. “É um espelho de honestidade consigo mesmo. As organizações frequentemente forçam a barra, especialmente nos tipos de atividades. Muitas vezes, o edital solicita organizações experientes em alguma área e ficam tentando criar um portfólio que não existe”, avalia.
Para selecionar os editais mais adequados, ela aponta que os proponentes devem ler atentamente a proposta e o regulamento do processo. Caso ocorra uma identificação com o edital, é possível realizar a inscrição, mas, se isso não existir, as instituições devem ter paciência, pois não faltam oportunidades ao longo do ano.
O segundo ponto é a estruturação. As responsabilidades financeiras, estatutárias e trabalhistas devem estar em dia. Todas as documentações e apresentações comerciais que apresentem seus objetivos, atividades e valores precisam estar em ordem, mesmo que não tenham editais abertos. Assim, no momento de fazer a inscrição, há uma economia de tempo e é possível se concentrar para preenchê-los adequada e cuidadosamente.
Como os projetos se diferenciam muito de um edital para outro, Stefane enfatiza que a prática é uma das melhores formas de desenvolvê-los. “Captação de recursos é repetição, quanto mais a gente faz e se dedica, mais aprendemos e compreendemos o que é o mercado e fazemos aquilo com mais qualidade. Os projetos se diferenciam muito, há editais de empresas que procuram algo muito específico, há certificados solicitados que não cabem em todos. O que é pedido depende do tipo de parceria desejada”, explica.
Realizar as inscrições com antecedência ajuda a evitar problemas. O Prosas revela que, em média, os editais ficam abertos durante 46 dias, tempo suficiente para fazer as inscrições. Mas a maioria das OSCs espera a data limite para se inscrever, pontua a plataforma. Em 2021, 80% das inscrições aconteceram na última semana, sendo que 55% delas ocorreram no último dia disponível. O hábito é ruim, pois desconsidera as chances de ocorrerem imprevistos como erros no preenchimento e falhas no sistema, por exemplo.
A última dica de Stefane é se organizar para manter todos os editais preenchidos separadamente porque as perguntas se repetem muito. Assim, é possível otimizar o tempo e aproveitar parte do material usado em outros processos, adaptando-o conforme as necessidades e solicitações dos editais.
Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas.