Entender como a cultura de doação está se desenvolvendo é essencial para aproveitar todo o potencial transformador da generosidade. O Termômetro da Doação 2024, estudo recém publicado pelo Movimento por Uma Cultura de Doação (MCD), faz uma análise detalhada sobre o estado das doações no Brasil, destacando os avanços e desafios que permeiam esse cenário.
O material é resultado de um trabalho que envolveu a análise de 351 indicadores coletados a partir de 21 fontes diferentes, incluindo Censo GIFE (2018, 2020, 2022) e Pesquisa Doação Brasil (2020, 2022). A cultura de doação é dividida em cinco diretrizes principais, cada uma avaliada com base em uma escala de porcentagem que varia de 0% a 100% que mede o quanto o Brasil avançou em relação ao ideal:
A classificação final é um reflexo de como o país está se saindo em termos de incentivo, educação e facilitação da doação.
Uma das diretrizes avaliadas é a Educação para a Cultura de Doação. Com uma pontuação de 42%, esta diretriz foi classificada como “Estagnada”. Isso significa que, embora existam algumas iniciativas, o impacto delas ainda é limitado e há muito espaço para crescimento. O estudo revelou que apenas 8% das iniciativas voltadas para promover a cultura de doação interagem com escolas, e somente 6% com universidades.
Para que essa diretriz avance, é necessário que mais instituições educacionais em todas as regiões do Brasil se envolvam. Criar programas de educação que abordem a doação como um dever cívico e uma prática cotidiana para formar uma geração mais consciente e generosa.
Outra área crítica identificada pelo Termômetro é a Promoção de Narrativas Engajadoras. Esta diretriz alcançou 50% na pontuação, o que a coloca na categoria “Em Desenvolvimento”. Aqui, a pesquisa destaca a necessidade de criar histórias mais envolventes que mostrem como a doação pode ser um ato transformador, tanto para quem doa quanto para quem recebe.
Os dados analisados mostraram que, embora existam boas iniciativas de comunicação, elas ainda não alcançam todos os públicos que poderiam se beneficiar dessas narrativas. Campanhas de comunicação que falem diretamente com diferentes grupos sociais e culturais, mostrando o impacto positivo das doações, são essenciais para que essa diretriz avance.
O ambiente em que a doação ocorre também foi avaliado e os resultados não foram animadores. A diretriz Criar um Ambiente Favorável à Doação foi classificada como “Estagnada”, com apenas 36% de pontuação. Isso reflete as muitas barreiras que ainda dificultam as doações no Brasil, como a complexidade das leis fiscais e a falta de serviços bancários específicos para as organizações da sociedade civil (OSCs).
O Termômetro sugere que simplificar a tributação e oferecer mais incentivos fiscais para doadores seriam passos importantes para melhorar essa situação. Além disso, garantir que as OSCs tenham acesso facilitado a serviços bancários especializados poderia estimular ainda mais a cultura de doação.
A pesquisa “As ONGs e os bancos”, elaborada pela ABCR em 2023, apontou a existência de uma contínua burocratização exercida pelos bancos, além do desconhecimento do trabalho das entidades do Terceiro Setor. Os resultados apontaram que 65% das organizações não possuem cartão de débito, 38% foram vítimas de cobrança indevida de tarifas bancárias ou de impostos debitados em conta e 33% foram impedidas de abrir uma conta bancária.
No que diz respeito ao fortalecimento das organizações que recebem doações, a diretriz Fortalecer as Organizações da Sociedade Civil também ficou na categoria “Em Desenvolvimento”, com 50% de pontuação. O Termômetro da Doação 2024 revelou que, embora o volume de recursos destinados às OSCs esteja crescendo, ainda falta apoio institucional para que elas se fortaleçam. Para isso, é preciso que haja investimentos em capacitação e governança, garantindo que possam se sustentar e crescer a longo prazo.
Por fim, o Termômetro avaliou a diretriz Fortalecer o Ecossistema Promotor da Cultura de Doação, que também está “Em Desenvolvimento”, com 46%, resultado que reflete a necessidade de maior articulação entre os diferentes atores do ecossistema de doação no Brasil, incluindo OSCs, empresas e governo.
Para que essa diretriz evolua, o relatório destaca a importância de fomentar parcerias mais efetivas entre esses setores. Além disso, a produção e o compartilhamento de dados e informações são essenciais para que todos os envolvidos possam trabalhar de maneira mais coordenada e estratégica.
Por meio do Termômetro da Doação 2024 é possível verificar que, apesar dos avanços em algumas áreas, ainda há desafios que precisam ser superados para construir uma cultura de doação sólida. Para isso, é fundamental que todos os setores da sociedade trabalhem juntos, investindo em educação, comunicação e em um ambiente mais favorável à doação.
Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas