Quando o tema é impacto social, o resultado financeiro é insuficiente e é necessário incluir outras estratégias para chegar a um valor mais adequado. Como medir a transformação positiva ou negativa de uma organização da sociedade civil em uma comunidade? A metodologia SROI tenta responder esta pergunta. SROI significa, na sigla em inglês, Social Return on Investment e pode ser traduzido como Retorno Social sobre Investimento.
No final da década de 1990, a Roberts Enterprise Development Fund (REDF), aceleradora norte-americana de negócios sociais, desenvolveu uma primeira versão do SROI como um protocolo de avaliação para medir suas contribuições sociais. O protocolo propõe uma análise comparativa entre o valor dos recursos investidos em um projeto ou programa e a monetização do valor social que ele gera para a sociedade. Esse cálculo é realizado por meio de técnicas distintas que estimam o valor intangível de ativos que não podem ser comprados ou vendidos. Conclui-se, por exemplo, que a cada 1 real investido, foram gerados 3 reais em benefícios sociais.
Normalmente, o processo requer um período de quatro a seis meses e é indicado quando a ONG já possui algum período de maturação. O SROI possui sete princípios: envolvimento dos stakeholders (pessoas ou organizações que experimentam mudanças ou afetam a atividade, positivamente ou negativamente, como resultado da atividade que estiver sendo analisada), compreensão das mudanças causadas, valorização do que importa aos beneficiários ou à região, materialidade, não reivindicação em excesso (isso significa que uma organização precisa ter cautela ao atribuir um resultado positivo ao próprio trabalho), transparência no processo e no registro de resultados e verificação de resultados.
Há dois tipos de SROI: de avaliação, que é conduzido retrospectivamente e baseado em resultados reais, e de previsão, que prevê quanto valor social será criado caso as alternativas alcancem os resultados esperados. O método favorece a integração de dados qualitativos e quantitativos. Por meio de dados qualitativos, há uma visão mais clara sobre a natureza do impacto na vida dos envolvidos. Já a coleta de dados quantitativos estabelece indicadores da intensidade das melhorias na vida das pessoas atendidas pela iniciativa, mensura quais e quantos projetos também podem ter contribuído para as transformações mencionadas pelos beneficiados e retrata a visão deles sobre o tempo de permanência dos impactos retratados em suas vidas.
Análise contribui com aprimoramento e mobilização de recursos
Transcender a monetarização do impacto social é um dos grandes méritos da metodologia focada na percepção dos beneficiários dos projetos, que também recebem uma devolutiva com as conclusões do SROI. “As devolutivas são muito bem recebidas. Existe um processo muito próximo de escuta junto aos beneficiários. Geralmente, eles não são procurados depois dos processos de avaliação”, afirma Paula Fabiani, CEO do Instituto para o Desenvolvimento do Instituto Social (IDIS), e única brasileira certificada no protocolo pela Social Value UK, rede sobre impacto e valores sociais.
Uma análise SROI possibilita a sistematização de dados, facilita discussões estratégicas e ajuda a entender e maximizar o valor social criado por um projeto, fomenta reflexões, auxilia no aprimoramento das organizações, tomadas de decisões e contribui com o fortalecimento da mobilização de recursos e do advocacy por políticas públicas. Apesar de o SROI possuir muitas vantagens, a estimativa de valor social não é objetiva, já que se trata de bens intangíveis cujos valores são estimados pelas denominadas proxies financeiras.
Segundo Fabiani, o IDIS combina diferentes valorações para estipular um valor social criado por uma intervenção. Esse raciocínio considera diferentes métodos que poderiam atingir o mesmo resultado de um projeto social. Assim, uma criança que desenvolveu uma sociabilidade maior, por exemplo, poderia ter feito aulas de teatro ou acompanhamento psicológico.
O IDIS já realizou 20 avaliações SROIs de ONGS e sete estão em andamento. Uma das organizações atendidas foi a Gerando Falcões, que trabalha com lideranças de favelas de todo o país. Entre 2020 e 2021, o IDIS usou o método SROI para fazer uma avaliação de impacto das Oficinas de Esporte e Cultura com crianças e adolescentes e do Programa de Qualificação Profissional com jovens e adultos realizado em São Paulo.
De acordo com o portal do IDIS, a cada 1 real investido nas iniciativas avaliadas, houve um retorno social de R$ 3,50. “Características da Gerando Falcões como gestão, agilidade e engajamento da equipe mostraram-se importantes para alcançar os resultados desta avaliação e para mitigar os efeitos da pandemia de Covid-19. Ou seja, os resultados refletem não só a quantidade de atividades oferecidas, mas também a qualidade e adequação aos seus públicos e territórios”, reportou o IDIS. O processo avaliativo também ofereceu orientações e sugestões para expandir o impacto da instituição.
Ainda que o SROI seja vantajoso em muitos aspectos, Fabiani pondera que o importante é que as organizações da sociedade civil façam avaliações independentemente do método: “O SROI é um processo oneroso, leva tempo e muitas organizações não conseguem utilizá-lo. Mas avaliar é fundamental: é preciso reunir dados, saber quanto foi investido, quem são seus beneficiários, quais são as mudanças provocadas pelo projeto para saber se a organização está indo na direção certa, se está alcançando o que almejou”.
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