Resumo da matéria:
- Fundação José Luiz Egydio Setúbal lança pesquisa sobre cenário da solidariedade no Brasil em 2023
- Apenas 28% dos brasileiros doaram para OSCs em 2023; maioria contribuiu até R$ 500
- Redes sociais, especialmente Instagram, impulsionam doações
- Confiança e transparência das OSCs são fatores decisivos
- Apenas 3% utilizam doação via Imposto de Renda
A Fundação José Luiz Egydio Setúbal divulgou o “Retrato da Solidariedade: Comportamento Pró-Social no Brasil”, um estudo que mapeia como os brasileiros praticam a solidariedade, abarcando desde doações monetárias e de bens até atividades de voluntariado e doações biológicas, como sangue e órgãos. Os resultados destacam as variáveis que influenciam o comportamento solidário, incluindo renda, gênero, religião e ideologia, além de revelarem um cenário em que a confiança nas instituições é um fator decisivo para a filantropia.
A pesquisa, que ouviu mais de 2.500 brasileiros e refere-se ao ano de 2023, revela que a maioria da população contribui de alguma forma para ajudar o próximo, seja através de doações monetárias, bens materiais, ou mesmo em ações cotidianas como oferecer esmolas. Entre os principais comportamentos pró-sociais identificados (ações voluntárias que visam o bem-estar alheio, como doações, voluntariado e ajuda direta), o pagamento de dízimos em igrejas destacou-se com 38% dos entrevistados afirmando que contribuíram em 2023. Essa prática é mais comum entre mulheres, pessoas mais velhas e indivíduos de orientação política à direita. Já 65% dos entrevistados afirmaram ter dado esmolas, uma prática mais frequente entre os mais jovens e aqueles com maiores rendas.
Doações para OSCs
Entre os brasileiros que contribuíram financeiramente com organizações sociais em 2023, 28% afirmaram ter feito doações em dinheiro para organizações da sociedade civil (OSCs). Cerca de 77% dos contribuintes doaram até 500 reais no ano. A pesquisa aponta que mulheres, pessoas de maior renda e idade, e residentes das regiões Sudeste e Centro-Oeste são mais propensas a realizar essas contribuições.
Formas de doação
A pesquisa traz dados sobre as formas de pagamento e estímulo das doações, que podem guiar estratégias de captação das OSCs. O dinheiro vivo é a forma de contribuição mais comum, utilizado por 49% dos doadores, enquanto 30% preferem o PIX, um método rápido e de fácil acesso.
Quanto aos estímulos, 54% dos doadores foram motivados por redes de relacionamentos pessoais, como amigos e familiares, enquanto 41% mencionaram o arredondamento de troco em compras como um incentivo.
Redes sociais também tiveram papel importante no estímulo à doação. O Instagram lidera a com 40% dos entrevistados que foram motivados a doar através das redes sociais afirmando que essa foi a plataforma em que mais se sentiram impulsionados a ajudar. A facilidade de interação e o apelo visual desta rede possibilitam que as OSCs compartilhem histórias, vídeos e resultados das suas ações, permitindo uma conexão mais imediata e emocional com os seguidores. O Facebook, por sua vez, aparece como o segundo maior influenciador, com 28%, destacando-se pela sua base de usuários mais ampla e diversificada.
O WhatsApp, embora utilizado mais frequentemente para comunicação direta, também teve relevância como canal de estímulo à doação, com 22% dos entrevistados mencionando-o como um meio que os inspirou a contribuir.
Transparência e confiança: fatores decisivos
Quando o assunto é escolher para qual organização doar, a causa da instituição aparece como o principal critério (30%), seguida pela confiança na liderança da organização (19%) e pela transparência (12%). Esses dados destacam a importância de as organizações sociais serem claras em suas práticas e demonstrarem impacto real, visto que 20% das pessoas que não doaram em 2023 mencionaram dúvidas sobre a boa aplicação dos recursos como razão para não contribuírem.
O levantamento também mostrou que as pessoas doam, em sua maioria, para uma única organização (47%). No entanto, as OSCs enfrentam o desafio de conseguir doações regulares: apenas 37% dos entrevistados afirmaram realizar contribuições monetárias periódicas, enquanto a maioria doa esporadicamente, sem planejamento fixo.
O perfil de quem doa
A pesquisa detalhou o perfil dos doadores brasileiros, revelando que a maioria são mulheres (55%) e que quase metade dos doadores têm mais de 45 anos. Em termos de renda, 60% dos doadores ganham até quatro salários mínimos. Além disso, a motivação para doar está fortemente ligada à responsabilidade social, sendo este o motivo principal apontado por 39% dos entrevistados. Outros 37% afirmaram que a doação os faz sentir bem, enquanto 8% citaram suas crenças religiosas como fator determinante para a doação.
Motivos para não Doar
Entre os entrevistados que não fizeram doações em 2023, 33% afirmaram que a principal razão foi a falta de dinheiro, enquanto 22% disseram que não doaram por não terem sido solicitados a fazê-lo. Além disso, 20% dos entrevistados citaram dúvidas quanto à aplicação dos recursos como barreira para a doação, reforçando a importância da transparência nas organizações.
Doação via Imposto de Renda
A pesquisa “Retrato da Solidariedade” trouxe à tona um aspecto menos explorado na filantropia brasileira: as doações via Imposto de Renda (IR), uma modalidade ainda pouco utilizada no país. Apenas 3% dos mais de 2.500 entrevistados afirmaram ter realizado doações por meio dessa ferramenta.
Entre os fatores que contribuem para essa baixa adesão, destaca-se a falta de informação. Dos que nunca doaram via Imposto de Renda, 71% afirmaram que a razão é simples: não declaram o IR. Porém, entre aqueles que declaram o IR, há também uma baixa adesão: 23% dos respondentes disseram que sequer sabiam que era possível destinar uma porcentagem de seu imposto para OSCs. Essa lacuna de conhecimento aponta para a necessidade de campanhas educativas, tanto do governo quanto das organizações, para aumentar a conscientização sobre essa modalidade de doação.
Outros obstáculos à doação via Imposto de Renda incluem o receio da “malha fina”, com 3% dos entrevistados declarando que evitam essa opção por medo de terem que prestar contas adicionais à Receita Federal. Outros 3% afirmaram que o processo é “complicado demais”.
A pesquisa completa “Retrato da Solidariedade: Comportamento Pró-Social no Brasil” está disponível para download no site da Fundação José Luiz Egydio Setúbal.
Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas