O impacto provocado pelo desafio do balde de gelo, que inclusive já repercutimos em artigo exclusivo aqui na ABCR, continua a ser foco de debate na área da captação de recursos. Hoje, trazemos mais um texto, este de origem americana, que discute os resultados da campanha para a própria organização beneficiada por ela. Confira.
Há sim um desafio no Desafio do Balde de Gelo da Esclerose Lateral Amiotrófica
Tem sido bem interessante assistir nas últimas semanas como o Desafio do Balde de Gelo ALS (sigla em inglês para Esclerose Lateral Amiotrófica) vem dominando o cenário da captação de recursos. Abaixo o meu sumário geral dos raciocínios:
Brincadeiras à parte, aqui estão as questões que eu acho que são as mais importantes:
1) As pessoas aparentemente ainda não entendem a importância de gastar dinheiro e onde está desenhada a linha entre o que é “excessivo” e o “razoável”. É claro, sempre haverá os “haters” – as pessoas que tentam nos aborrecer e causar intriga. Mas eu vi alguns posts terríveis nas mídias sociais sobre a Associação ALS. Eu não tenho certeza se alguns deles foram baseados em ciúmes e são na verdade o resultado de um desejo de má vontade contra o beneficiário desta grande sensação viral, mas há alguns que simplesmente parecem se basear em mal-entendidos.
Estes “artigos do mal” têm tipicamente um gráfico pizza mostrando como a ALSA gasta seu dinheiro, ou os salários dos altos executivos da organização. São com estes que eu fico mais decepcionada. Um dos títulos que mais me deixaram triste foi “A Associação ALS Não Merece Sua Doação”. O ponto principal deste artigo em particular era que 73 por cento do dinheiro arrecadado pela ALSA não era gasto em pesquisa. Bem, adivinhe – está correto. Mas o artigo tenta sugerir que se ele não é gasto com pesquisa então a organização é uma fraude e não uma boa instituição.
Sim, 27 por cento do dinheiro captado é gasto com pesquisa. Mas outros 19 por cento são gastos com serviços ao paciente e à comunidade. E outros 32 por cento são gastos com educação pública e profissional. Qualquer um que entenda como uma doença afeta a comunidade sabe que a pesquisa de novos tratamentos e uma “cura” são muito importantes – mas também o é ajudar aqueles que já estão diagnosticados e tentar melhorar sua qualidade de vida, enquanto passam pelo o que são provavelmente os dias mais difíceis de suas vidas. Aumentar a conscientização do público em geral e da comunidade médica é também de grande importância para ajudar a educa-los na habilidade de diagnostica-la o mais cedo possível. Eu pessoalmente conheço alguém que foi mal diagnosticado por mais de um ano por sua equipe médica – então, sim, aumentar a conscientização sobre a esclerose lateral amiotrófica é muito importante.
Sim, eu acredito que todos os doadores devem fazer sua lição de casa e aprender sobre as organizações que apoiam e como as doações são usadas. Mas seria uma vergonha se um grupo de doadores de uma instituição na verdade não entendesse a realidade sobre como o dinheiro está sendo usado. Esta é uma batalha que tem sido travada por muito tempo pela nossa indústria, e nós não podemos parar agora – especialmente com este tipo de imprensa. E se as pessoas da nossa indústria estão realmente tentando criar desconfiança, É VERGONHOSO.
2) Sim, há 3 milhões de novos doadores para esta organização. Confie em mim – como marqueteira e captadora – eu acredito que estes 3 milhões de doadores poderiam deixar alguém acordado por muitas e muitas noites, se estressando. Lembre-se de todas aquelas histórias sobre os milhões de doadores para catástrofes que colocam a sua carinha para fora apenas uma vez ou outra. Pois é, os cofres se encheram, mas estes doadores não são os doadores típicos. Estes doadores não estão necessariamente conectados com a organização. E, adivinha só, custa dinheiro se comunicar com os doadores.
Então, a ALSA agora tem 3 milhões de pessoas com quem começar a falar, para a qual deve construir uma estratégia, e talvez já saber que muitas dessas novas pessoas não vão ser retidas pela marca. Seus relatórios financeiros para 2014 ficarão para sempre com notas de rodapé (*ano do Desafio do Balde de Gelo). Os membros do conselho vão querer que a organização repita esta campanha – e provavelmente acreditam que a renda possa ser repetida. Esta é uma oportunidade única para os captadores e marqueteiros da ALSA, mas será também bem desafiadora, no mínimo.
3) Como este novo influxo de dinheiro será gasto? Esta é a minha maior pergunta. Eu acredito que a ALSA fará a coisa certa.
Mas esta é uma situação especial. Anteriormente eu comparei o volume de doadores com o de um cenário de catástrofe, mas nesses casos a habilidade de gastar o influxo de dinheiro em questões relacionadas ao desastre pode ser facilmente compreendida. Neste caso, porém, trata-se dos “negócios de sempre” para esta organização, mas a sua conta bancária cresceu exponencialmente.
Parece que todos os jornais especializados em negócios ponderaram sobre esta questão e em como a ALSA deveria gastar o dinheiro. Na minha cabeça, esta poderia ser uma oportunidade única para a ALSA reunir os melhores e mais brilhantes da comunidade da Esclerose Lateral Amiotrófica e formar um comitê especial para avaliar onde a necessidade é maior e onde os maiores benefícios serão alcançados. Meu receio é que muitos olhos estarão sobre eles, e eu não gostaria que isso se voltasse contra eles e afetasse negativamente a confiança que cresceu com as doações. Nenhum de nós pode arcar com uma mudança para a direção errada na confiança do público.
Uma coisa é certa – isto será escrito nos livros de Marketing um dia e será monitorado por todos nós ao longo do ano que vem para sabermos: 1) o que a ALSA fez com o todo o dinheiro 2) o que fez com todos estes novos doadores e 3) como a poeira se assenta no longo prazo para a ALSA.
Mas eu vou te dizer isto: meu filho de nove anos foi desafiado por pelo menos cinco dos seus amigos, e ele aceitou o desafio. Ele entendeu sobre o que era. Ele conta para as pessoas que ele doou. Ele pediu para olhar o Facebook todos os dias para que pudesse ver todos os vídeos. Ele me assistiu (no meu vídeo) relacionar minha habilidade de pegar aquele balde de gelo com aqueles que sofrem com a Esclerose Lateral Amiotrófica, a fraqueza que eles têm em seus membros e a paralisia final. Então, todas as perguntas que eu tenho são importantes, mas se pelo menos a metade dos pais que deixou seus filhos “aceitarem o desafio” tiver explicado a eles o que eles estavam realmente fazendo, este desafio viral vai ter plantado algumas importantes sementes para o futuro. Todos os causadores de intriga precisam ficar quietinhos (e ir à terapia ter uma sessão especial sobre “ciúmes”).
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Por Angie Moore, publicado em 02 de setembro de 2014, na página http://www.fundraisingsuccessmag.com/blog/yes-there-is-challenge-with-als-association-ice-bucket-challenge?e=michel@criando.net#utm_source=today-in-fundraising&utm_medium=enewsletter_continue_story1&utm_campaign=2014-09-02.
Traduzido para o português por Nina Brito, da Criando.