Quando o Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graacc), de São Paulo, começou a construir um segundo hospital, a estratégia para arrecadar os R$ 6 milhões que ajudariam a concluir a obra parecia óbvia: apelar aos poucos que podiam doar muito. No meio do caminho, no entanto, ficou claro que, se quisesse finalizar o prédio no prazo previsto, teria mesmo é de apelar aos muitos que podiam doar pouco.
A obra, iniciada em 2011, deveria terminar dois anos depois, a um custo total de R$ 32 milhões. Quando começou o projeto, o Graacc já havia conseguido R$ 12 milhões com as vendas da revista Sorria, oferecida na rede Droga Raia e que tem parte de sua venda revertida para o hospital, além de R$ 14 milhões obtidos via Fundo Municipal da Criança e do Adolescente.
“Planejamos levantar os R$ 6 milhões restantes com grandes doadores. Essa é uma estratégia muito baseada no contato pessoal. Fizemos uma lista de prospects, levávamos membros do conselho para nos ajudar nas reuniões, apresentávamos a ideia e mostrávamos como os patrocinadores iriam ter seu nome em espaços do novo prédio”, diz Tammy Allersdorfer, superintendente de desenvolvimento institucional do Graacc.
Mas faltando um ano para o final do prazo de entrega do novo hospital, R$ 3 milhões tinham sido captados e ficou claro que os recursos não poderiam ser levantados a tempo apenas com grandes doadores.
“Se prorrogássemos a obra, talvez conseguíssemos, mas tínhamos uma responsabilidade com nossos pacientes, nossos profissionais e nossos patrocinadores. Obra parada dá uma sensação de fracasso”, afirma Tammy.
A solução foi apelar para um dos maiores bens da organização: sua imensa base de doadores. “Criamos uma campanha que tinha como mote ‘escreva seu nome na história do Graacc. Pedíamos doação de R$ 150 e, em troca, colocaríamos o nome do doador em uma placa no hospital.”
Naquele momento, a base era de cerca de 300 mil pessoas, o que incluía desde doadores recorrentes até pontuais, que só haviam doado uma vez. Foi enviado um convite por mala direta para todos, apresentando o projeto, falando do hospital e explicando a contrapartida.
A iniciativa foi bem-sucedida. Cerca de 20 mil pessoas contribuíram e o hospital foi entregue no final de 2013. Dentro, num corredor, há uma imensa placa com a identificação de todos os doadores. Muitos deles estiveram presentes na inauguração e ficaram orgulhosos quando fotografados ao lado de seus nomes.
“Até hoje aparecem doadores para ver a placa. No Brasil, as pessoas não costumam falar muito sobre suas doações. O reconhecimento é uma coisa comum nos Estados Unidos, por exemplo. Mas funcionou”, ressalta Tammy.
Nem bem entregou as obras do segundo hospital, o Graacc já começa a discutir a construção de uma terceira unidade. “Ainda vamos definir a finalidade da nova unidade, mas já tiramos lições da nossa experiência anterior com captação. Tem que ter não só um plano A, mas um B e um C. Não dá para esperar a necessidade para partir para uma outra opção”, recomenda Tammy.