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O papel do Captador de Recursos frente ao novo cenário da Captação de Recursos

1 – INTRODUÇÃO

Este artigo escrito a várias mãos pelo Grupo de Trabalho da Cultura no final do 2021 e início de 2022 tem como objetivo demonstrar como podemos através dos projetos culturais contribuir com a Agenda 2030, através da identificação dos indicadores da cultura nas suas atividades e projetos. 

Todos podemos contribuir com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, essa é a nossa contribuição para você captador de recursos e/ou que atua como Relações das Instituições junto a empresas para viabilizar os projetos. 

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2 – CAPTAÇÃO DE RECURSOS 

Em um cenário de mudanças desafiadoras, as organizações sociais sem fins lucrativos que compõem o Terceiro Setor, por sua complexibilidade, precisam se organizar, sistematicamente, para garantir a sua manutenção e subsistência. 

No sentido de subsistência, vale relembrar um conceito extremamente relevante: a Filantropia, a qual é tão antiga como a própria criação do mundo porque tem como essência o “amor à Humanidade”. A igreja, nos seus princípios de caridade, estimulava desde os seus primórdios a filantropia como forma de “amor ao próximo”. Essa relação pessoal do que pode cada ser humano fazer pelos outros, num ato de benevolência ou compaixão com a intenção de apoiá-los e ajudá-los a satisfazer suas necessidades vitais, constitui o grande núcleo da filantropia. É o dar”! 

Dito isso, a Captação de Recursos, no sentido moderno dessa atuação, não significa matar o espírito filantrópico como motivador de ação de doar. Refere-se, sim, a um novo processo que visa à operacionalização da ação de ajudar a uma determinada causa, cujos fins são coletivos e de abrangência pública, e que conduz à visibilidade, à clareza e à credibilidade no rumo da aplicação dos recursos captados.   

No percurso histórico da Captação de Recursos, os Estados Unidos marcam presença a partir da criação, por um grupo de profissionais, da obtenção de fundos da “National Society Of Fund Raising Executives (NFFRE) na década de 60, que visava à profissionalização dos que atuam na área de Captação de Recursos de fundos para as instituições.

A eficiência dessa organização serviu de modelo a outros países do mundo. A NSFRE mudou seu nome para “Association of Fundraising Professionals” (AFP) e conta com inúmeros associados. No Brasil, a exemplo dessa instituição, contamos com a ABCR – Associação Brasileira de Captadores de Recursos é uma organização sem fins lucrativos que reúne os profissionais de mobilização, captação de recursos e desenvolvimento institucional do setor social brasileiro.

E tem como principal objetivo estabelecer uma ampla representação nacional, fortalecendo os laços entre os profissionais que atuam neste setor e propiciando condições para o intercâmbio técnico, a troca de experiências e o desenvolvimento comum da profissão.

Criada em 1999 através da iniciativa de captadores de recursos da cidade de São Paulo, a ABCR hoje possui ampla representatividade a nível nacional. Ao se integrar à ABCR, todos os associados assumem o compromisso de honrar e difundir o Código de Ética da Associação, que é um documento maior de orientação do trabalho profissional de captação de recursos no mundo.

Atualmente tem em torno de 400 associados ativos e outros 5mil que estão comprometidos com a causa da captação de recursos e recebem as informações do setor. Organizada de forma nacionalmente tendo Núcleos de discussão temática e regional, diretoria executiva, Conselho de Administração e Conselho Fiscal como qualquer organização no Brasil. Tem como:

 Missão – promover, desenvolver e qualificar a atividade de captação de recursos no Brasil, segundo o seu Código de Ética e apoiando o Terceiro Setor na construção de uma sociedade melhor. 

Visão – ser referência em capacitação, conhecimento e informação para captação ética de recursos no Brasil, legitimando e dando visibilidade à atividade.

 Áreas Estratégicas de Atuação  

  • Promover debates de captação nos três setores: público, privado e sociedade civil;
  • Qualificar a atividade de captador de recursos;
  • Divulgar a missão, visão, princípios e valores e Código de Ética da ABCR. 

Desde criação da ABCR os seus associados tinham como meta a criação da profissão de forma regulamentada até que em fevereiro de 2021 conseguiram obter o CBO, ou seja, o Código Brasileiro de Ocupação emitido pelo Ministério do Trabalho, Emprego e Renda.  Passo importante para que organizemos cada vez esse mercado que cresce no Brasil, para que seja mais organizado e regulamentado.

Vale dizer que de acordo com o SEPRT (Secretaria Especial de Previdência e Trabalho) do Ministério do Trabalho, Emprego e Renda a profissão de Captador de Recursos estão categorizados em dois tipos: Um que está classificado no CBO 2532-05 – Gerente de captação (fundos e investimentos institucionais), é descrito como o profissional que comercializam produtos e serviços financeiros e desenvolvendo propostas de crédito, gerenciando carteira de clientes e efetivando negócios, ainda prospectam clientes, exercem ações gerenciais e previnem operações ilegais, interagem com áreas afins locais e internacionais. O outro é o código na CBO 4110-55 – Captador de recursos / Mobilizador de recursos, profissional que atua na área de captação de recursos, planejando e implementando estratégias de captação, e contato com doadores/ parceiros, realiza e preenche os relatórios e documentos, acompanham os processos administrativos, organizam eventos para doadores, identificam parceiros e contornar situações adversas, demonstrar: capacidade de organização, criatividade, facilidade de comunicação, flexibilidade, iniciativa, persistência, proatividade; trabalham em equipe e  transmitem credibilidade.

 Ressaltamos também sobre a questão da remuneração que o código de ética recomenda que esse profissional tenha um contrato fixo e não percentual sobre o sucesso da sua atuação.

Os profissionais da Captação de Recursos estão antenados às mudanças que permeiam a evolução da profissão, sobretudo da sociedade, uma vez que é fundamental a continuidade dos projetos que impactam milhares de pessoas. As ODS representam uma oportunidade de um mundo melhor. 

3 – HISTÓRIA DOS ODS

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, comumente conhecido como ODS, representam uma oportunidade para eliminar a pobreza extrema e colocar o mundo numa trajetória sustentável. Os governos de 193 países já concordaram com essas metas. Este é o momento para as empresas e projetos culturais agirem.

Foram acordados em 2015 por 193 líderes mundiais na sede da ONU. Ao todo, são 17 objetivos e 169 metas que visam endereçar os principais desafios da nossa sociedade e do planeta. Fazem parte da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, um esforço conjunto, de países, empresas, instituições e sociedade civil.

As ações culturais estarem no monitoramento e na integração dos ODS nas estratégias dos projetos/ programas/ ações é encorajar o compromisso público com a Agenda 2030. Então como a Cultura pode potencializar a Agenda 2030?

Integrando os ODS nas estratégias de negócio /projeto/ programa. Desenvolvendo soluções inovadoras e disruptivas que contribuam para o alcance da Agenda 2030. Para isso podem utilizar o SDG Compass, como informado pelo Pacto Global em seu site, “é um guia de orientação para as empresas, a respeito de como elas podem alinhar as suas estratégias, mensurar e administrar sua contribuição para o atingimento dos ODS”. Com isso os projetos culturais podem seguirem e implementarem os ODS nos seus projetos.

Os ODS estão baseados em diversos valores de equidade, diversidade e inclusão por uma sociedade mais justa e mais equilibrada no sentido do uso sustentável dos recursos naturais dentro dos limites planetários. Os objetivos possuem uma correlação com o desenvolvimento das cidades, das comunidades e dos territórios a partir dos pilares da sustentabilidade (social, ambiental, econômico) com uma variação entre questões de gênero, raça, renda, educação, saúde, consumo consciente e uma cultura de paz.

Diante deste contexto, muitos recursos estão disponíveis para que organizações do terceiro setor possam acessar empresas e governos para receber apoios financeiros para realização de projetos que intersecionam estes objetivos em conjunto com as propostas culturais que desenvolvem. E a cultura, e o setor cultural como um todo, é parte essencial na realização destes objetivos, considerada pela ONU como um valor transversal a todas as demais ODS.

O captador e a captadora de recursos do setor cultural podem apreender o contexto dos ODS neste momento no Brasil e quais os compromissos orçamentários e programáticos assumidos pelas empresas, sobretudo empresas globais presentes no Brasil ou empresas brasileiras presentes globalmente, que precisam realizar projetos que correspondam a determinadas ODS. Há uma série de referências sobre o tema tanto no site do GIFE, quanto do PACTO Global (Alinhamento de empresas em 160 países integrando suas estratégias e operações a 10 princípios universais nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção com responsabilidade de contribuir para o alcance dos 17 ODS) e da própria ONU e UNESCO que possibilitam aos captadores do setor cultural ampliarem seu entendimento e formação nesta frente de trabalho multisetorial. Assim como também há referências importantes nos conteúdos, cursos, conferências e oficinas desenvolvidas pela ABCR sobre o tema, que podem ser norteadoras dos conceitos, fontes, técnicas, informações que captadores precisam ter acesso e desenvolver para acessar adequadamente e com sucesso de captação, os patrocinadores que têm os ODS como prioridade em suas políticas que definem o perfil de projetos patrocináveis.

O setor cultural pode e deve se beneficiar dos recursos disponíveis para a realização de projetos que colaborem para a plena execução dos ODS até 2030 (AGENDA 2030 da ONU) e para isto, é importante que captadores sejam conhecedores de como funcionam as ODS e se integrem as redes que possibilita que projetos de artes visuais, música, dança, teatro, museu, artesanato local, economia criativa e todas as formas que se manifestam no setor cultural e realizem objetivos sociais, ambientais e/ou econômicos em seus territórios de ação, se integrem aos ODS de forma coerente e efetiva.

Atualmente é de fundamental importância que exista a integração entre captadores do setor cultural com todo o contexto ampliado que envolve os conteúdos e a agenda sobre os ODS de forma mais transdisciplinar para a legitimação dos possíveis vínculos entre os projetos e instituições que representam e que podem ter ações/resultados correspondentes a cada uma das ODS e suas metas definidas pelas Nações Unidas.

Devemos também levar em conta em nossas proposições o Manual Metodológico Indicadores Unesco de Cultura para o Desenvolvimento (2019) que tem 22 indicadores e o CULTURA 21: AÇÕES de 2015 que tem 9 compromissos e os Indicadores de Cultura da Unesco para o Desenvolvimento (IUCD) em 2014 com 22 indicadores propõe outros conforme abaixo:

 

INDICADORES CULTURA 2030 (2019)  CULTURA 21 (2015)
22 INDICADORES AÇÕES
MEIO AMBIENTE & RESILIÊNCIA  1. Direitos culturais 
1 Gasto com patrimônio  2. Patrimônio, diversidade, e criatividade 
2 Gestão sustentável de herança  3. Cultura e educação 
3 Adaptação climática e resiliência  4. Cultura e ambiente 
4 Instalações culturais 5. Cultura e economia 
5 Espaço aberto para a cultura  6. Cultura, equidade e inclusão social 
PROSPERIDADE & MEIOS DE SUBSISTÊNCIA  7. Cultura, ordenamento urbano e espaço público 
6 Cultura no PIB  8. Cultura, informação e conhecimento
7 Emprego cultural  9. Governança da cultura
8 Negócios culturais 
9 Despesas domésticas 
10 Comércio de bens e serviços culturais 
11 Finanças públicas para a cultura 
12 Governança da cultura 
CONHECIMENTOS E HABILIDADES 
13 Educação para o Sustentável Desenvolvimento 
14 Conhecimento cultural 
15 Educação multilíngue 
16 Educação cultural e artística
17 Treinamento cultural 
INCLUSÃO & PARTICIPAÇÃO 
18 Cultura para coesão social 
19 Liberdade artística 
20 Acesso à cultura 
21 Participação cultural 
22 Processos Participativos
AGENDA 2030 (2015) INDICADORES DE CULTURA PARA O DESENVOLVIMENTO (IUCD)
17 OBJETIVOS 22 INDICADORES
1 – Erradicação da pobreza Economia 
2 – Fome zero e agricultura sustentável Contribuição das atividades culturais ao Produto Interno Bruto – PIB
3 – Saúde e bem-estar Emprego cultural
4 – Educação de qualidade Gastos das famílias com cultura
5 – Igualdade de gênero Educação
6 – Água potável e saneamento Educação inclusiva
7 – Energia limpa e acessível Educação plurilíngue
8 – Trabalho decente e crescimento econômico Educação artística
9 – Indústria, inovação e infraestrutura Formação de profissionais do setor cultural
10 – Redução das desigualdades Governança
11 – Cidades e Comunidades sustentáveis Marco normativo
12 – Consumo e produção responsáveis Marco político e institucional
13 – Ação contra a mudança global do clima Infraestrutura cultural
14 – Vida na água Participação da sociedade civil na governança cultural.
15 – Vida Terrestre Participação social
16 – Paz, justiça e instituições eficazes Participação em atividades culturais fora de casa
17 – Parcerias e meios de implementação Participação em atividades culturais
Fortalecedoras da identidade
Tolerância a outras culturas
Confiança interpessoal
Livre determinação
Igualdade de gênero 
Desigualdades entre homens e mulheres
Percepção da igualdade de gênero
Comunicação 
Liberdade de expressão
Acesso e uso de internet
Diversidade de conteúdos de ficção na TV pública
Patrimônio 
Sustentabilidade do patrimônio

 

4 – CONCLUSÃO 

Esperamos ter podido contribuir um pouco mais sobre o assunto, mas não deixe de fazer uma leitura complementar do material que citamos na referência para que possa ampliar o entendimento sobre o assunto e apontar para o seu cliente quais são as dimensões e indicadores sua atividade está atendendo fazendo com isso que amplie a captação de recursos. Sucesso e conte depois para nós como colaborou para o atendimento da Agenda 2030. 

Referências:

ABCR – https://captadores.org.br/ – Disponível em 12/01/2022

ESCOLA ABERTA DO TERCEIRO SETOR – https://www.escolaaberta3setor.org.br/post/capta%C3%A7%C3%A3o-de-recursos-%C3%A9-uma-profiss%C3%A3o-reconhecida – Disponível em 12/01/2022

JORNAL EMPRESAS E NEGOCIOS – https://jornalempresasenegocios.com.br/mercado/reconhecimento-da-profissao-de-capacitacao-de-recursos-aquece-o-mercado/#:~:text=O%20Minist%C3%A9rio%20da%20Economia%20acaba,a%20oficialmente%20reconhecida%20no%20Pa%C3%ADs.&text=%E2%80%9CA%20capta%C3%A7%C3%A3o%20de%20recursos%20%C3%A9,a%20ser%20reconhecida%20no%20Pa%C3%ADs – Disponível em 12/01/2022

PACTO GLOBAL – https://www.pactoglobal.org.br/info-capacitacao/17 – Disponível em 12/01/2022

SESC – https://rfp.sesc.com.br/moodle/pluginfile.php/53215/mod_glossary/attachment/646/Indicadores%20de%20cultura%20da%20UNESCO%20para%20o%20desenvolvimento%20%28IUCD%29.pdf – Disponível em 12/01/2022

Créditos:

Sandra Pedroso
Marcelo Oliveira
Dani Torres
Lucimara Letelier
Luciana Moreira
Bia Gurgel
Heloize Campos

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