Há cada vez mais notícias sobre desastres naturais, ondas de calor e outros eventos causados pelas mudanças climáticas. A lógica capitalista que visava apenas ao lucro tornou-se ultrapassada e nunca se discutiu tanto a respeito do impacto das atividades humanas sobre o meio ambiente. Dentre os muitos atores que têm se mobilizado para alterar esse panorama está o setor corporativo. Recentemente, Yvon Chouinard decidiu doar 100% da empresa bilionária Patagonia para duas entidades de combate às mudanças climáticas. No Brasil, o Grupo Gaia percorreu um caminho semelhante e foi doado para uma ONG socioambiental de mesmo nome em um processo no qual os sócios passarão a atuar como funcionários da organização. Essas decisões comprovam a urgência do assunto e fazem parte de um cenário revolucionário que traz oportunidades para organizações da sociedade civil.
Um dos principais pilares para o desenvolvimento sustentável são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um conjunto de 17 objetivos globais estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015. Eles fazem parte da Agenda 2030, um compromisso global assinado por 193 países, incluindo o Brasil, para assegurar um futuro saudável para a humanidade. Compostos por 169 metas, os ODS são fundamentais para o planeta e devem ser uma preocupação das organizações da sociedade civil. Alguns deles são: erradicação da pobreza, fome zero e agricultura sustentável, saúde e bem-estar, educação de qualidade, igualdade de gênero, água potável e saneamento e ação contra a mudança global do clima.
Segundo Fabiana Dias, diretora-executiva da Mais Argumento, consultoria de gestão estratégica de comunicação, o Terceiro Setor já está alinhado aos ODS, mas falta incluí-los no planejamento das organizações. Ela recomenda que as organizações façam um exercício de autorreflexão e analisem quais ODS se conectam ao trabalho realizado e que impacto pretendem causar na sociedade para, em seguida, incorporá-los aos meios de comunicação. Além de inspirar outras pessoas, isso ajuda a atrair voluntários, doadores e patrocinadores.
“É muito importante contar sobre os ODS para as pessoas por vários motivos. Primeiro, pela colaboração que a gente promove. É claro que quando dizemos para um possível doador ou patrocinador que nossa organização colabora com a meta 3.2 do ODS 3 é um ótimo argumento para a captação de recursos. Assim como os governos, pessoas e organizações de todos os níveis assumem compromissos voluntários, as empresas são pressionadas a fazer o mesmo. Há uma pressão de financiadores para que as empresas tenham políticas de diversidade e inclusão. Estamos falando de um encontro de objetivos: as empresas precisam colaborar nessa direção e as organizações sociais fazem isso e precisam de recursos. Só estamos colocando um selo comum nesse caminho”, explica.
Tanto a captação de recursos como os meios de comunicação devem mostrar que os ODS fazem parte da cultura da instituição. Transmitir essa informação nas comunicações da organização é simples, mas demanda planejamento. Existem muitas possibilidades para revelar a preocupação da organização com os ODS: sites, redes sociais, e-mails, podcasts (caso a organização produza). No site, vale colocar um texto explicativo sobre quais são os ODS trabalhados pela instituição. Já nos e-mails, é possível inserir o selo oficial, certificação da ONU que demonstra o compromisso da instituição com a Agenda 2030, no campo da assinatura.
Para abordar o assunto nas redes sociais, o ideal é estabelecer um calendário que mencione os ODS de forma recorrente. “É possível, por exemplo, falar sobre o tema uma vez por semana ou mensalmente, mostrando o que é o ODS em que a organização atua, com qual meta que ela colabora e como as pessoas podem ajudá-la nisso. Nas redes sociais, vamos construindo narrativas sobre nossa causa, nossa organização, as pessoas atendidas, quem nós somos. Estabelecemos calendários para construir pequenos pedaços de histórias, dá até para ter uma abordagem mais pedagógica e separar um dia na semana para produzir conteúdo no Linkedin, no Instagram, no Facebook, no Tik Tok sobre o que são ODS e como se a instituição se conecta com isso”, acrescenta Fabiana.
Outro espaço interessante para mencionar o alinhamento da organização com os ODS é o relatório anual, que detalha números e atividades desenvolvidas durante o ano. O relatório é fundamental para a transparência, a prestação de contas e para mostrar o impacto causado naquele período. É também uma ferramenta de divulgação das ações realizadas pela instituição e seus beneficiários, o que demonstra profissionalismo e aumenta a confiança de parceiros, voluntários, doadores e pessoas interessadas em colaborar com o trabalho.
Para Fabiana, o Instituto Iguá de Sustentabilidade, que tem a missão de contribuir para a universalização do saneamento no Brasil, é um exemplo de organização no que se refere à preocupação com os ODS e à comunicação sobre isso. As ações do Iguá estão muito relacionadas à água limpa e acessível e à proteção do ambiente aquático e terrestre, entre outros ODS, mas a organização é focada no ODS 6, que tem como intuito assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos. Isso fica claro no site, nas redes sociais, na assessoria de imprensa e no relatório anual.
Fabiana frisa que as organizações não devem perder oportunidades de mencionar sua relação com os ODS. Além dos meios mais tradicionais de comunicação, há outros tipos de visibilidade, como podcasts, materiais impressos (que devem ter os selos oficiais), que podem ser distribuídos em eventos ou reuniões, e na comunicação com a imprensa.
As dicas da Fabiana foram compartilhadas durante o Encontro de Comunicação e Captação de Recursos 2022.
Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas